Super Kryptonite

Monday, October 27, 2008

Já agora, a actuação

Monday, October 13, 2008

Publicity-Whore

Porque um dia não são dias, um pequeno exercício de narcisimo auto-promoção - o artigo do Público sobre a gala dos Cómicos de Garagem:

O problema dos braços das cadeiras no cinema ou o futuro do humor português

13.10.2008, João Bonifácio

Entre quarta-feira e sábado a Antena 3 e as Produções Fictícias levaram ao Teatro São Luiz, em Lisboa, a segunda edição dos Cómicos de Garagem, lugar de revelação de novos humoristas. Há muita piada incipiente, mas a avaliar pela noite de sábado, que reuniu os vencedores
da primeira e desta edição, podemos estar descansados: no futuro vamos continuar a rir
Há um ano a Antena 3 e as Produções Fictícias iniciaram uma colaboração rara no espaço hertziano português: se sempre houve programas de humor na rádio nacional, ali, naquele espaço chamado Cómicos de Garagem, abriam-se as portas aos não profissionais - um pouco ao jeito das amateur nights de stand-up comedy que qualquer boteco americano tem a uma sexta à noite.
O processo era simples: os pretendentes a humoristas gravavam um clip de voz, a equipa de produção das Produções Fictícias (PF) fazia a triagem e Rui Unas, o apresentador, comentava - por norma cascando, de forma pedagógica, nos debutantes.
Conta Joana Marques, membro das PF envolvida no programa, que uma parte da triagem era simples: "Eliminávamos aqueles que só estavam interessados em dizer palavrões." Logo à partida indicia que o humor à Fernando Rocha não é o que lhes interessa. Agora que a iniciativa já tem um ano, pode fazer-se uma avaliação global - Joana pensa um pouco e conclui que "a grande maioria, não sendo genial, tem talento".
Como "a adesão foi muito grande" (ainda palavras de Joana), o programa de rádio foi transferido para os palcos e em Janeiro deste ano os melhores competiram entre si. De quarta-feira a sábado, no Jardim de Inverno do São Luiz, a "gala" repetiu-se - oportunidade única para perceber o futuro do humor nacional, em particular porque na noite de sábado não só actuaram os vencedores das noites anteriores, como os vencedores da primeira edição do Cómicos de Garagem.
Isto permitia perceber duas ou três coisas: quem são as pessoas que estão a tentar começar a fazer humor; que diferença de (passe a expressão) estaleca há entre quem já teve exposição e quem sobe a um palco pela primeira vez; e se há ou não humor de "autor" entre os neófitos. Já agora, isto serve igualmente para ver se há público para os recém-chegados.
O decote de Merkel
O P2 assistiu à última ronda de selecção, na sexta-feira, e ao (digamos que) espectáculo de consagração no sábado. Quanto ao público, as contas são simples: o Jardim de Inverno enche (no sábado estava à pinha), mas de familiares e amigos dos concorrentes. Ainda assim, há quem consiga pôr toda a gente a rir, independentemente de virem apoiar este ou aquele.
O grosso dos concorrentes é muito, muito jovem. Na quarta-feira, o vencedor, Manuel Cardoso, ostentava uns garbosos 14 anos - e no sábado (noite em que repetiu a actuação de quarta) admitiu que ainda não tem barba, mas só entre sair da cadeira e subir ao palco já lhe aumentou a acne. Surpreendentemente faz piadas com o decote de Angela Merkel - Nuno Lopes, actor dos Contemporâneos, diz ter ficado emocionado com a precocidade do rapaz e o facto de ele estar atento à política nacional e internacional.
O humor, para este pós-bebé, começou quando tinha 12 anos: "Com uma professora de Português que me obrigava a ler os meus textos para a turma, porque lhe faziam rir." Depois começou a testar as suas capacidades fora da sala de aula, com a mais simples das ferramentas: o YouTube e os blogues (Teorema de Cardoso, para quem estiver interessado). Não é caso único: quase todos têm clips na Net ou blogues - o que faz sentido, se pensarmos que, na noite de quarta, o primeiro concorrente, André Martins, de Beja, tinha 16 anos. Ou que o colectivo CDI tem uma média de idades de 15 anos. Os mais velhos (são quatro) têm 23 anos. Com uma excepção: a vencedora de sexta-feira. (Sobre ela disse Rui Unas: "Quem é que disse que uma mulher para ter graça no palco precisa de um varão?")
Susana Carvalho é quase um elemento à parte entre os restantes concorrentes: vem de Condeixa-a-Nova e já é casada, o que neste caso não é ilegal, porque tem 28 anos, é professora de Português em Pombal, pelo que as suas referências de humor "vão do João Quadros a coisas como o Alexandre O'Neill". Como Eduardo Madeira e José de Pina, os membros do júri fizeram notar, ela já tem um conceito próprio autoral de humor: pegou na ideia dos Cómicos de Garagem e contou a sua experiência com garagens: era vocalista de uma banda de garagem - a partir desta simples base comentou toda a actualidade, usando pequenas elipses. Um tipo de humor que vive muito do texto, até porque o nervosismo a fazia ficar estática - o que, aconselhou o júri, também pode ser usado a seu favor.
O imitador
Mas há uma razão para o texto de Susana ser tão bem escrito: ela já tem mais experiência. Para o programa de rádio enviou cinco escassos clips. Mas entretanto teve "a ideia de fazer um workshop de humor nas PF". A partir daí começou a escrever para Herman José. "Foi só no final do workshop que resolvi começar a escrever e mandar os clips", conta, e, quando foi seleccionada para ir ao São Luiz, nunca tinha subido a um palco. Agora "gostava de ficar na área".
Ela não é caso único. A dado momento da última noite de selecção, sexta-feira, surge um vídeo de Luís Franco Bastos, o vencedor da primeira edição dos Cómicos de Garagem. Servia para mostrar como é que o programa tinha mudado a sua vida. Era o típico sketch autodepreciativo com graça, não só pelo texto - todos os textos de clips e de Unas foram escritos por Rui Sinel de Cordes e Roberto Pereira e eram todos de altíssima qualidade -, mas também pelo próprio Bastos, um imitador nato e compulsivo que, de Cristiano Ronaldo a Alberto João Jardim, tem uma facilidade imensa em apanhar tiques de voz (e já alguns gestos) da gente notável da nação.
A história deste rapaz é uma espécie de "sonho português": ele "tinha mandado uns clips" para as primeiras edições radiofónicas do Cómicos de Garagem, quando se deu um acaso. Faltou o convidado previsto para um programa d'Os Incorrigíveis e chamaram-no à pressa. "Chamaram-me, escreveram-me um texto em meia hora e já está." Foi imediatamente convidado para participar no programa Sexta à Noite, de José Carlos Malato.
Vê-lo em palco, e aos restantes finalistas (tanto os da primeira edição como os desta) e comparar a consistência destas actuações com as de sexta mostra um mundo de diferença, como foi notado por Unas e por Nuno Markl e Nuno Lopes, jurados de sexta, que tinham assistido a prévias apresentações, uma enorme vala de consistência. Na noite de sexta sobe ao palco gente muito nova, que nunca se tinha apresentado em frente a tantas pessoas. (Pina a este propósito fez ver que sendo ele um profissional só tinha feito stand-up uma vez e tinha-se sentido vagamente aterrorizado.) Os nervos tolhem-lhes os movimentos, impedem-nos de entregar as piadas no momento certo, fazem-nos esquecer aqui e ali o texto. Mas acima de tudo a juventude faz-se notar nos textos: as piadas com personalidades como Cláudio Ramos, Lili Caneças ou David Ramos são constantes - ao passo que entre os vencedores há uma espécie de recusa desse humor
mais "fácil".
"Tenho espasmos"
Isto tornou-se nítido na noite de sábado, em que os três primeiros classificados da primeira edição se juntaram aos três desta segunda e vale a pena olhar para eles - já falámos do primeiro classificado de Janeiro (Luís Franco Bastos) e dos vencedores de quarta (Manuel Cardoso) e de sexta (Susana Carvalho), mencionemos agora outros dois raros talentos (escolha pessoal, note-se).
Pedro Figueiredo, de vestido africano e pintado de preto, trazia uma personagem: Professor Maladu, actualmente dá aulas na Brandoa, numa escola repleta de alunos tão burros que "os alunos pensam que bonsai é a árvore em que os anões se enforcam", uma escola tão má que não tinha cartas de tarot, pelo que quando um aluno lhe pediu para lhe ler a sina teve de usar cartas normais - "Saiu a rainha de copas e hoje o rapaz é drag queen no Conde Redondo". A solidez da actuação, para quem ainda não tem um ano disto, é impressionante.
O mesmo se pode dizer de Pedro Silva, um lisboeta de 23 anos. Este já tinha alguma experiência de palco: "Há três anos entrei no concurso de humor do Bastidores, o café do Herman [José] e ganhei." O seu à-vontade é notório, o registo é profundamente americano, na observação de "pormenores do quotidiano, aquelas coisas que as pessoas nem reparam que lhes aconteceu mas reconhecem imediatamente".
Silva revolta-se contra as pessoas "que querem sempre mostrar as suas afetas": "Já vista a minha afeta?, Olha, olha." Depois coloca a questão mais importante da noite: o que é que se faz quando se chega ao cinema e as pessoas ao nosso lado já ocuparam os braços da cadeira? Pede-se licença? Pedro tem um método: "Finjo que tenho espasmos." E desata a dar pequenas cotoveladas. Falando para um espectador imaginário no cinema: "Desculpe, tenho espasmos, não posso fazer nada." É um humor seinfeldiano, muito atento a detalhes, muito raro por cá.

in Público (P2) - 13.10.2008

Wednesday, October 08, 2008

Take On Me: Literal Video Version

O vídeo clássico, um spin diferente.

Please win, mr Obama....